Telma Ferraz Leal e Ana Lúcia Guedes-Pinto, traçam coordenadas bem claras sobre a alfabetização na idade certa.
As autoras evidenciam que podemos retomar a ideia de que a ampliação das capacidades de leitura, escrita, fala e escuta são direitos de aprendizagem fundamentais e tais domínios são importantes não somente para a aprendizagem dos conceitos e teorias relativos aos diferentes componentes que compõe o Currículo da Educação Básica.
A atividade do aprendiz também é destacada na teoria de Ferreiro e Teberosky (1985), comentam Telma e Ana. Ferreiro e Teberosky evidenciaram que, no percurso da aprendizagem, as crianças elaboram hipóteses sobre como a escrita funciona, ou seja, em lugar de apenas memorizar as relações entre letras e sons, elas tentam compreender as regularidades do nosso sistema de escrita. Desse modo, podemos dizer que quanto mais motivado estiver o aprendiz, mais concentrado na busca de desvendar os mistérios da escrita ele estará.
Um estudo de Bernardin(2003), identificou que existiam diferenças nos modos como as crianças encaravam o processo de alfabetização (apontam as autoras). Esse autor descreveu que algumas crianças destacavam-se como ativas pesquisadoras, pois agiam como se soubessem que aprendizagem requer várias estratégias (prestar atenção nas palavras, analisar e perguntar quando tem dúvidas), aceitavam a incompletude momentânea, ou seja, tinham consciência que não se aprende de uma vez, “mas aos pouquinhos”. Outras crianças tendiam a ser mais passivas receptoras, pois não conseguiram explicar o que tinham que fazer para aprender, achavam que tudo dependia do professor: tinham medo de errar, tinham dificuldades...
Bernadin(2003) elucida que tais diferenças resultam de que há uma concepção de escola “apartada do mundo”, indiferente às práticas sociais de referência. Faltaria a tais estudantes a oportunidade de se interrogar sobre os usos sociais da escrita sobre a própria lógica de funcionamento de seu sistema”. As autoras informam que em pesquisa já citada, em que foram analisados 14 documentos curriculares de secretarias estaduais de educação e 12 secretarias municipais de capitais brasileiras. Leal e Brandão (2012) mostram que nesses textos de orientação às escolas está previsto o trabalho de leitura e de escrita autônoma desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, o que corrobora a ideia de que as crianças precisam ser alfabetizadas logo no início da Educação Básica.
Segundo as autoras, para muitos pesquisadores e educadores qualquer trabalho sistemático de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita caracterizaria um trabalho tradicional. Desse modo, como apontou Soares (2003), muitos professores deixaram de dedicar tempo a ajudar as crianças a refletir e compreender a lógica do sistema de escrita.
As autoras são categóricas ao considerar que é necessário, no momento atual em que nos encontramos, assumir posições mais claras a esse respeito, de modo a auxiliarmos as crianças no processo de alfabetização.
As autoras acreditam, que:
“Para que de fato, as crianças estejam alfabetizadas aos oito anos de idade, necessitamos promover o ensino do sistema de escrita desde o 1º ano do Ensino Fundamental e garantir que os conhecimentos relativos às correspondências grafofônicas sejam consolidados nos dois anos seguintes. Assim, é importante que no planejamento didático possibilitemos a reflexão sobre conhecimentos do nosso sistema de escrita, situações de leitura compartilhada em que os meninos e meninas possam desenvolver estratégias de compreensão do Funcionamento do Sistema de Escrita alfabética; o domínio das correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimento morfológico e domínio de estratégias de compreensão de produção de textos escritos. “(Caderno de Apresentação do Programa)”
Em relação ao domínio do sistema alfabético, ocorre algo diferente, dizem as autoras. Alguns conhecimentos precisam ser dominados logo no início da escolarização, pois são de natureza mais restrita, embora não simples. Soares 2003 alerta que a falta de atenção a essa delimitação pode acarretar conseqüências perigosas para o processo educativo. Ela afirma que existem duas tendências acerca da delimitação:
“[...ou se atribui à alfabetização um conceito demasiado amplo (muitas vezes até mesmo ultrapassando os limites do mundo da escrita) ou, ao contrário, atribui-se a ela um conceito excessivamente restrito (a mera decodificação de fonemas). Tendências, como disse, igualmente perigosas: no primeiro caso, a qualidade da alfabetização é constituída de tão numerosos e variados atributos, que ela, sendo tudo, torna-se nada; no segundo caso, a qualidade da alfabetização é constituída de tão limitados e modestos atributos que ela, sendo pouco torna-se também nada:” (Soares,2003,p.53)
Fonte: Telma FerrazLeal
Ana Lúcia Guedes-Pinto
PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA
CURRÍCULO INCLUSIVO: O DIREITO DE SER ALFABETIZADO
ANO 03
Unidade 01
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